Moradora do povoado Maravilha, na zona rural do município de Custódia (sertão de Pernambuco), a vaqueira Julia Gabriela de Jesus, 20, começou a se interessar por pegas de boi no mato quando ainda era criança. No entanto, ela só passou a participar desse tipo de evento vestindo chapéu e gibão de couro há pouco mais de um ano.
“Eu sempre gostei de bicho. De cavalo, principalmente. Quando era criança, eu admirava, mas não imaginava que poderia ser [vaqueira]. Tinha a vontade, mas era como se não fosse possível”, relata Julia.
Nas pegas, os animais são soltos na Caatinga e os vaqueiros e vaqueiras que conseguem recuperá-los vencem a disputa estabelecida ali. Em geral, os prêmios são em dinheiro ou são entregues troféus, selas, arreios e até animais para quem consegue voltar do mato com um boi no laço.
Com pouco incentivo da família e muita coragem, a cada pega de boi da qual participa, Julia enfrenta touceira de xique-xique, espinho de jurema e o desafio de, quase sempre, ser a única mulher a integrar grupos de vaqueiros compostos majoritariamente por homens. “A minha família diz o que a gente costuma ouvir, mesmo. Que é coisa de homem, que é perigoso. Em casa, eu só tenho o apoio da minha avó Severina e da minha namorada, Valessa. Nas pegas, sempre aparecem os vaqueiros que acham que estou ali por estar. Pensam que mulher não enfrenta o desafio de verdade”.
Na essência, as pegas de boi no mato ainda destacam e valorizam principalmente características e posturas que costumamos associar apenas aos homens, que são maioria nesse tipo de evento. A presença e a influência de mais mulheres nesses espaços, para abrir mais caminhos para que outras vaqueiras participem ativamente das pegas de boi, é algo importante para Julia. “Eu acredito que as mulheres devem ocupar esses lugares, mesmo. Pra gente mostrar que também podemos fazer isso. Que podemos participar das pegas de verdade e não ficar só assistindo. Acredito que, assim, nós podemos ajudar a quebrar o preconceito das pessoas que acham que é coisa só de homem”.