Localizado no agreste setentrional do estado, Santa Cruz do Capibaribe é um dos municípios que, junto a Toritama e Caruaru, integra o Polo de Confecções do Agreste. Na cidade, que é conhecida como a “Terra da sulanca”, a intensa produção semanal de peças de vestuário gera um grande excedente de resíduos têxteis, vindos das produções de unidades locais de fabricos e facções familiares, que costumam fazer o descarte desses refugos de maneira inadequada, no lixo doméstico.
Diante desse cenário, sem a existência de orientações especializadas, voltadas para o descarte correto desse tipo de material, surge o projeto “CR14TUR4S: Oficina de montagem de criaturas e animação em stop motion”, que realiza oficinas para alunos da rede pública do município, com o propósito de reaproveitar os restos de tecidos e estimular a criatividade dos estudantes, a partir da confecção de personagens para a gravação e montagem de filmes em Stop Motion (técnica de animação onde os objetos são movimentados e fotografados foto por foto, criando, assim, a ilusão de movimento após o tratamento de edição e sequenciamento destas imagens).
A iniciativa é dos produtores culturais Larissa Cunha (@pit0cs), Joze Laurentino (@laurentinojoze) e Virgínia Guimarães (@radioguimaraes). Para o oficineiro e multiartista Joze, a experiência com a mediação desse trabalho manual e criativo é positiva. “É surpreendente, as crianças têm uma super facilidade em lidar com a costura (algo que fiquei super receoso de início por achar meio “perigoso”) e, sentir essa pulsação criativa que só uma criança é capaz de gerar, é muito lindo!”.
De acordo com o relatório Fios da Moda, realizado pelo Instituto Modefica e FGV, só no Brasil, são produzidas quase 9 bilhões de novas peças de roupa por ano (o que representa uma média de 42 novas peças de roupa por pessoa, nesse período). Roupas velhas e retalhos de tecido representam mais de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis. São 5% de todos os resíduos produzidos e descartados anualmente no país, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
A produção de peças têxteis é um fator significativo de impacto ambiental, o excedente da produção é um fato e ainda recebe pouca atenção. E, como apontam os dados da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o setor registrou um crescimento de 20% em 2021, o que representa uma movimentação de 194 bilhões de reais.
A oficina traz um olhar curioso sobre o que acontece com os restos de tecidos gerados pela indústria têxtil, e o que pode acontecer se a criatividade for acionada, criando assim possibilidades e novos sentidos com pequenas peças de retalho. A oficina CR14TUR4S (criaturas) também pretende estimular um novo olhar para o que é o corpo, a beleza e o medo, resultando na confecção de personagens com formas extraordinárias, como conta a oficineira Larissa: “Eu curto o lixo, o monstro. Costuro só com coisas achadas ou doadas, deixo a criatura me levar pra forma que ela quer ter, uso a linha que tiver perto. Formo cada ser como se estivesse escrevendo um poema pra poder olhar e sentir algo intenso. O poema do descarte”.
As oficinas aconteceram no Coletivo Chocalho, espaço voltado para realização de atividades de arte-educação, e na Escola Municipal Profª Lucinalva Santos Aragão. O projeto tem o apoio do Edital de Microprojetos do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura).
Os resultados das atividades do projeto estão disponíveis no Youtube. Os filmes foram produzidos individualmente, com cada aluno. O material pode ser acessado no canal da produtora de audiovisual Punctum Filmes, através dos links:
CR14TUR4S (2022) | Sessão Coletivo Chocalho:
CR14TUR4S (2022) | Sessão Escola Lucinalva: